segunda-feira, 5 de julho de 2010

Saiu na Folha

Motoristas recorrem a truques para driblar e passar pelo teste - 04/07/2010

“Passar no vestibular ou aprender? No caso da inspeção veicular, são comuns as histórias de quem busca truques ou estratégias para não ser reprovado. Na prática, isso enfraquece a utilidade do programa, que visa controlar a poluição do ar na cidade.
Donos de carros antigos, por exemplo, formam um grupo que teme a vistoria.
"São carros com muita carburação, de difícil regulagem", diz Dalto Pinto, um dos criadores do clube do Puma, que tem 900 associados.
Proprietário de quatro carros antigos (Puma-79, Chevette-78, Opala-72 e Fusca-71), ele tenta obter a placa preta para seus automóveis.
Como carro de colecionador, ficam livres da inspeção.
Um dos membros do clube, por exemplo, acabou reprovado com um motor que tinha rodado apenas 300 km, diz ele. "Ele pegou um motor novo, na Volkswagen, e colocou no Puma antigo. Mesmo assim, acabou reprovado."
Em termos ambientais, a inspeção veicular vai demorar um pouco para ter efeito, diz Paulo Artaxo, pesquisador da USP. "Houve enorme atraso na implementação do programa. O aumento da frota fez os níveis de poluição aumentarem. Alguma redução nos índices atuais, só a partir de 2015", afirma.
O presidente da Controlar, Harald Zwetkoff, reconhece a possibilidade de artifícios para passar na inspeção -inclusive a troca do motor. Afirma que alguns são fraude, sujeitos a sanções penais.
Mas avalia que, pelo trabalho que dão, os truques não compensam em larga escala.
De acordo com Zwetkoff, a queda de emissão de poluentes dos veículos que passaram na inspeção durante o ano passado equivale à retirada de 500 mil das ruas.
Mecânicos e motoristas costumam reclamar da instabilidade dos resultados, dizendo não ser possível identificar a origem do problema.

Carro novo pena em inspeção veicular

Cenho franzido, mão na nuca. Antonio Carlos Rodrigues, 48, nem precisaria abrir a boca para revelar seu espanto com a notícia de que um Palio 2009 novinho, flex, modelo 2010, com só 2.134 km de vida, havia sido reprovado na inspeção veicular.
"É esquisito demais, não?", dizia Rodrigues, na função de motorista da empresa dona do automóvel.
Menos de 15 minutos antes, Joaquim Carlos Canário, 63, comemorava a aprovação "de primeira" de seu Escort 1989, 91 mil km rodados.
As cenas da quinta passada, num posto de inspeção da zona norte paulistana, não são raras nas vistorias de emissão de poluentes da Controlar, que faz o teste.
O presidente da empresa admite receber reclamações diariamente por conta de veículos seminovos reprovados.
Mesmo não sendo maioria, são os casos que causam mais bate-boca nas vistorias.
"Meu carro, um Honda Fit 2008, com 20 mil km, tinha acabado de sair da revisão. Foi reprovado. Na minha frente, um carro com pneus carecas e porta que nem fechava foi aprovado. Tive um verdadeiro chilique", afirma Marilda Barone Marques, 57.
Falta de manutenção adequada, gasolina adulterada e pouco uso do carro são alguns dos fatores que explicam algumas reprovações.
"O motorista que roda pouco faz um uso considerado severo do carro, que requer manutenção mais frequente", diz Felício Félix, analista técnico do Cesvi Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária).
Uma situação que contribui para alguns resultados aparentemente esdrúxulos é que a tolerância dos testes é menor para os carros novos.
O limite de emissão de CO em marcha lenta de um automóvel a gasolina até 1979 é de 6%, contra 0,3% para um fabricado a partir de 2006.
Na prática, significa que um veículo seminovo pode ser reprovado mesmo poluindo quase um vigésimo de um antigo aprovado.
Os critérios obedecem ao Conselho Nacional do Meio Ambiente, sob a alegação de que os mecanismos de controle de emissões dependem da época de fabricação.
Mas a diferença de exigências não é suficiente para explicar as reprovações. Não à toa concessionárias e montadoras, como a Honda, já procuraram a Controlar para saber por que alguns modelos às vezes são barrados.
Quatro de sete oficinas mecânicas consultadas pela Folha afirmaram que as queixas se concentram no modelo do Fit vendido até 2009.
"Tenho recebido uma média de uns quatro carros Fit por semana, muito mais do que os outros", diz Eduardo Wada, dono de um centro automotivo no bairro da Liberdade, centro da cidade.
Funcionários da Controlar também relataram a motoristas reprovados que esse automóvel vinha apresentando alto índice de reprovação.
O diagnóstico foi dado, por exemplo, tanto para Marilda Barone Marques, dona de um Fit 2008 reprovado três vezes, quanto para Roberta Bordin, gerente de informática e cujo Fit 2007 passou só na quarta vistoria.
"Fiquei um mês com meu carro parado", conta ela, cansada de pagar a taxa de reprovação de R$ 56,44.
A montadora nega qualquer anormalidade. E a Controlar, oficialmente, diz não ter indicadores das aprovações por marca e modelo.”

Essa polêmica está muito longe de acabar.

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